“Simulation against the grain” de Nicolas Gourault
Em Simulation against the grain, a primeira exposição em Portugal de Nicolas Gourault, o artista e realizador francês apresenta cinco peças baseadas no tempo. Criadas individualmente, estas peças vão desde curtas-metragens a instalações multimédia e simulações de computador em tempo real, que em comum partilham uma abordagem prática e experimental das ferramentas de criação de imagens digitais com uma abordagem narrativa documental e investigativa. Através de múltiplos pontos de entradas, como estudos de caso, as peças exploram alguns sítios de conflitos e resistências na era do “capitalismo de vigilância” (Shoshana Zuboff) em que vivemos, em que os nossos corpos enfrentam um conjunto crescente de dados e tecnologias de vigilância.
Ao longo da exposição é recorrente a tensão entre imagens vernaculares da cultura de massas, como as filmagens encontradas ou as filmagens de arquivo, e tecnologias mais avançadas que utilizam as imagens de uma forma nova e mais operacional. As peças exploram as relações de poder inerentes à tecnologia e tentam construir contra-narrativas, por vezes irónicas ou trágicas, através da utilização de testemunhos e da criação experimental de imagens.
Nicolas Gourault interessa-se pelo processo através do qual as imagens digitais são criadas: quais são as ferramentas utilizadas para criar as imagens que, por sua vez, moldam os nossos imaginários e quem são as pessoas envolvidas, que podem permanecer invisíveis no processo. Por outras palavras, quem faz parte da representação e quem é expulso dela. A política de representação, que implica dinâmicas de poder e hierarquias de valores, está ligada a uma questão muito crua de trabalho e envolve a manipulação das ferramentas para as utilizar a contragosto.
Sediado em Paris, o trabalho de Nicolas Gourault (1991) deambula entre a arte visual e a cultura visual, ligando estas dimensões às preocupações políticas através do uso documental e crítico dos new media. Através das ferramentas de produção de imagem, Gourault explora as formas de alteridade que persistem dentro de espaços controlados. Os seus trabalhos têm sido exibidos em locais como o Centre Pompidou, o ZKM ou o Ars Electronica, mas também em festivais de cinema como o Cinéma du Réel, o Festival dei Popoli ou o IndieLisboa.