Festival Alkantara
De 10 a 25 Novembro 2023
O Alkantara Festival convida artistas e públicos para uma programação internacional de dança, teatro, performance e encontros na cidade de Lisboa. Ao longo do festival apresentam-se projetos que partem de investigações artísticas, políticas, culturais e sociais para experimentar formatos e possibilidades de diálogo.
Este ano 3 espetáculos de coreógrafos franceses são apresentados em Lisboa.
10.11.2023 e 11.11.2023 – Whitewashing de Rébecca Chaillon – Teatro do Bairro Alto – Lisboa
Como é que mulheres negras podem cuidar de si e dos seus corpos numa sociedade dominada pela branquitude?
O termo whitewashing descreve uma prática de casting em que atores e atrizes brancos interpretam personagens de outros grupos étnicos, ou o ato de ocultar deliberadamente factos desagradáveis ou incriminatórios.
Rébecca Chaillon apropria-se do termo e subverte-o para abordar a questão do branqueamento da pele, denunciar o modo como o racismo imposto sobre as mulheres negras fragiliza a sua autoestima e trançar caminhos de libertação dos padrões de beleza dominantes para, finalmente, recuperar a cumplicidade das redes de autonomia e afeto e de amor próprio.
Em palco, Rébecca Chaillon e Ophélie Mac limpam e esfregam com lixívia: primeiro o chão, depois os seus próprios corpos. Criam rituais de cuidado de pele e cabelo que afirmam a sua existência única diante do poder alienador do racismo. O público é convidado a olhar, a observar, enquanto o corpo que a sociedade deseja tornar invisível se torna cada vez mais nu, inevitável, inteiro.
17.11.2023 e 18.11.2023 – Feijoada de Calixto Neto – Teatro São Luiz – Lisboa
Uma roda de samba em que músicos, performers e o público dançam, cantam e partilham uma feijoada.
Feijoada é um guisado de feijão e carne, uma refeição típica de domingo, um símbolo da hospitalidade brasileira. Rodeado de músicos, bailarinos, intérpretes e uma cozinheira, o coreógrafo Calixto Neto e a sua equipa convidam o público a conhecer a preparação de uma feijoada em tempo real.
Os aromas do processo de preparação misturam-se com danças e canções de samba e com histórias pessoais e políticas. De onde provêm as desigualdades que caracterizam a sociedade brasileira? Que corpos estão sujeitos a violência? E de que outra forma se pode contar a história do prato nacional feijoada?
Nesta roda de samba, aprofunda-se a relação pessoal e política entre Brasil, Portugal e a diáspora africana. “Não perguntamos apenas sobre quem cortou as raízes, queremos saber quem afiou as facas.” Este é o mote para denunciar as camadas de opressão do legado da colonização.
A apresentação é seguida de uma degustação partilhada.
24.11.2023 e 25.11.2023 – Profético (Nós já nascemos) de Nadia Beugré – Culturgest – Lisboa
Corpos trans que encenam as suas próprias vidas, inventam os seus próprios lugares, constroem o seu próprio mundo.
Nadia Beugré navega entre Montpellier e Abidjan, na Costa do Marfim, onde cresceu. Para a sua mais recente peça convidou pessoas da comunidade trans de Abidjan. Pessoas designadas à nascença como rapazes, flutuam entre géneros, numa sociedade extremamente patriarcal que, convenientemente, finge não as ver.
Cabeleireiras de dia e divas da pista de dança à noite, transgridem binarismos individuais, familiares, sociais e históricos, sobre o que é bonito ou feio, masculino ou feminino, legal ou ilegal.
Aqui, tudo está à vista e à escuta, como prova de que estas pessoas já nasceram e reivindicam a sua liberdade. Através das redes de solidariedade que tecem e trançam entre si, inventam as suas próprias danças e os meios da sua própria sobrevivência.