“Algas Elétricas” de Agora du Design
De 27 Outubro a 3 Dezembro 2023
Agora du Design e o Institut français du Portugal, sob a curadoria de Scott Longfellow, apresentam Algas Elétricas, uma exposição que reune dois projetos de investigação em design que se enquadram no tema da Porto Design Biennal: Le Pavillon des rêves de Pablo Bras, que investiga sobre as energias residuais potenciais em ambientes suburbanos e o projeto Alga de Samuel Tomatis, que desde há 7 anos desenvolve uma investigação baseada nas algas verdes que invadem as nossas praias.
Estão prestes a ver o que realmente irão ver: uma praia que se tornou verde devido ao efeito dos porcos terem sido mantidos em condições precárias. Uma gárgula que, escondida numa sarjeta com mau tempo, desabrocha. Um saco condenado a desaparecer sem deixar rasto; oriundo de um presente, nascido do amor. E um telhado suburbano que se interpõe no caminho. Esta exposição pode parecer surrealista, mas é muito real, demasiado real? Concentra-se naquilo que muitas vezes não queremos ver, mas que está lá: as algas invasoras que povoam as praias e um pavilhão suburbano, esta tipologia de habitação que caiu em decadência. Algas Elétricas faz o balanço de dois projetos de investigação que pouco têm em comum, a não ser a lucidez de dois criadores face ao “aqui e agora”, a sagacidade e a capacidade destes criadores gerarem futuros a partir de erros do passado, ao que parece (ia) sem esperança.
Le Pavillon des rêves de Pablo Bras
Pablo Bras investiga onde isto não se faz: nos subúrbios residenciais. Estas casas/pavilhões nunca projetadas por arquitetos, mais sim por promotores que, tal como o Ikea para os móveis, as vendem a partir de catálogos, ignorando o local onde são construídas e negando assim qualquer possibilidade destas futuras habitações se enquadrarem no seu contexto: exposição, topografia, vegetação, etc. Pablo Bras procura inscrever estas casas nos fluxos, materiais e energias presentes, registrando cuidadosamente toda esta informação e propondo dispositivos para a sua potencial transformação em energia. Isto porque Pablo Bras tem ainda uma outra ambição, a de harmonizar os ritmos elétricos. Com Le Pavillon des rêves, ele demonstra que, estando vigilante, atento aos fluxos presentes e a todos os acontecimentos, nomeadamente os climáticos, é possível extrair energia do meio ambiente sem causar quaisquer danos.
Alga de Samuel Tomatis
Samuel Tomatis, trabalha sobretudo em locais onde se tem de tapar o nariz. Desde há sete anos que se interessa pelas algas verdes que estão a invadir as praias. A alga é uma planta marinha com mil e uma propriedades e, apesar das suas muitas virtudes, coloca problemas graves que nós, coletivamente, tardamos em considerar. O enriquecimento dos mares em nutrientes, nomeadamente devido à agricultura industrial, conduziu a uma proliferação anormal de algas em numerosas praias, nomeadamente na Bretanha e na ilha de Guadalupe, onde Samuel Tomatis faz as suas recolhas. Estas acumulam-se e criam matéria orgânica poluente e tóxica. Samuel Tomatis, como um alquimista da eutrofização, está a investigar a forma de transformar estes resíduos num recurso positivo e sustentável. Promove numerosas colaborações com especialistas do mundo da biologia, da ciência e da ecologia para desvendar a magia da biologia, colabora ainda com muitos artesãos para a trans-formar e por fim procurou várias possibilidades de mercado e organizou um sector que sete anos mais tarde se tornou industrial.
Devido às condições meteorológicas na região do Porto, as obras não poderão ser apresentadas ao público. Estão sujeitas a níveis excecionais de humidade em condições de conservação inadequadas, que as deformam e danificam. Em vez disso, o designer apresentará dois vídeos, um díptico realizado em colaboração com o artista de vídeo Lucas Bonnel, que traça o processo de transformação desta biomassa em diferentes tipos de materiais com propriedades e estéticas fascinantes, uma abordagem ecológica radical na fronteira entre a ciência e o design.
Estes projetos foram desenvolvidos graças à bolsa AGORA, um programa francês de apoio financeiro e de acompanhamento profissional para projetos de investigação em design que estejam conscientes dos desafios do nosso tempo. Este programa é financiado pelo Ministério da Cultura francês e pela Fondation d’entreprise Hermès. A exposição foi co-produzida por esta associação e pelo Institut français du Portugal no âmbito do Fonds d’innovation do Ministério da Europa e dos Negócios Estrangeiros francês e com o apoio do Institut français Paris.
Desde 1983 a Agora du Design, uma associação sem fins lucrativos e um dos principais intervenientes no design em França, apoia financeiramente jovens designers que procuram desenvolver, pela prática, projectos de investigação. Esta associação, atribui assim, de dois em dois anos e no seguimento de uma avaliação feita por um júri de profissionais, três bolsas: 2 bolsas de investigação atribuídas pelo projeto e uma outra pela exposição. Estes projetos são de grande relevância porque dão aos profissionais a possibilidade de desenvolverem um tema para além das preocupações comerciais, permitindo que a perspetiva do design seja posta em prática no longo prazo e em projetos menos rentáveis. Ao financiar e apoiar projetos que questionam a relação entre usos, técnicas, pessoas e o mundo, a Agora du Design apoia o importante papel desempenhado pelo design na abordagem dos principais desafios da sociedade contemporânea.
Samuel Tomatis
Samuel Tomatis é um designer e investigador em biomateriais. É o embaixador do trabalho sobre as algas no mundo do design contemporâneo. Ganhou inúmeros prémios de design contemporâneo pela sua investigação sobre algas, incluindo o Grand Prix de la Création de Paris e os Dezeen Awards. Mais recentemente, a estofadora Anaïs Jarnoux e Samuel Tomatis ganharam o prestigiado Prémio Liliane Bettencourt para a Inteligência da Mão – Diálogos pelas suas peças MS.86.Ulva, que materializam a sua investigação sobre novos materiais para mobiliário, marroquinaria e selaria feitos a partir de algas invasoras.
Pablo Bras
O designer Pablo Bras tem evoluído livremente entre investigação, curadoria, escultura, realização de vídeos e desenho. O seu trabalho incide sobre os usos das energias e a forma como podem ser reconfigurados por objetos do quotidiano. Procura praticar uma ecologia não naturalista, ultrapassando a origem natural ou artificial das coisas para melhor considerar o que está disponível «aqui e agora». Sob a forma de objetos, textos, filmes e instalações, tem realizado exposições em França e no estrangeiro, sendo também designer convidado na Escola Nacional Superior das Artes Decorativas de Paris.