
“Além do ecrã branco” – Encontro entre Zineb Sedira e Emilie Goudal

31 Outubro 2024 (18:30)
Durante a pesquisa para seu projeto sobre cinema militante Dreams Have No Titles, a artista Zineb Sedira deparou-se com menções ao filme de 1964 Le mains libres, um título frequentemente referenciado mas sobre o qual encontrava pouca informação.
Ao longo desta pesquisa o seu interesse foi crescendo, sobretudo pelo facto de o filme ser a primeira produção cinematográfica argelina, neste caso em conjunto com França e Itália, e porque a obra não teria sido exibida nos últimos 57 anos.
Quando uma cópia do filme em 35 mm ressurge no AAMOD – Archivio Audiovisivo del Movimento Operaio e Democratico, Sedira pôde finalmente ver Le mains libres. Nele descobriu não só o recém-criado Estado argelino a cores, uma visão rara na altura, mas também uma nação multifacetada, longe da visão simplista criada pela imprensa e pelo exército franceses.
Pela primeira vez, foi possível ver imagens que varriam todo o território argelino e testemunhar a riqueza das paisagens e a diversidade das suas tradições.
Recorrendo à estética do cinema militante da época, o filme apresenta um rico material de arquivo da guerra da Argélia: fotografias raramente vistas, filmagens, recortes de imprensa.
É um testemunho político e militante das marcas duradouras da colonização e das conversas que se seguem à conquista da liberdade por um país. Desafia-nos a pensar no poder da representação como um campo de batalha, “o cinema como uma arma” de descolonização, para traçar outros caminhos de emancipação com e contra as imagens.
Zineb Sedira, cuja prática tem incidido sobre a expressão artística e as experiências contemporâneas no Norte de África e Émilie Goudal, que tem investigado as interpenetrações entre arte, história, política e memória em contextos de descolonização, juntam-se para uma conversa sobre os temas que o filme levanta.