Mystères sous la surface
À primeira vista fascinantes ou sedutoras, as pinturas escondem um mistério na superfície. Elas merecem ser contempladas demoradamente, descobertas em diferentes momentos do dia ou da vida, pois contêm sempre uma reserva de significados variados, uma energia potencial emergente. Uma vez sob o seu feitiço, se estivermos dispostos a dedicar o tempo e o esforço para as contemplar, estas pinturas convidam-nos a universos singulares onde oscilamos entre a figuração e a abstração, entre a poesia e a transcrição do mundo tangível, entre o trompe l’oeil e uma janela para um pátio, entre jornadas estéticas e palimpsestos, entre contos e lendas, entre legendas desconexas do nosso mundo e visões luminosas e etéreas.
As obras apresentadas na exposição Mystères sous la surface na Perspective Galerie, no Palacete Severo, possuem um poder misterioso que cativa a atenção e transporta o espectador para mundos elusivos e fascinantes. Embora os artistas apresentados—Curro González, Patricio Cabrera, Neil Farber, Cristine Guinamand e Jas—venham de trajetórias diversas, partilham uma capacidade singular de criar obras que exercem uma influência quase encantatória sobre o observador. Para o espectador, basta deixar-se levar pelo encanto, permitindo-se ser impressionado e imergir na pintura, viajando sob a superfície.
Curro González desenvolve uma pintura figurativa inclassificável, estranha e misteriosa—poética, literária—que faz referência à história da arte ou a temas históricos, políticos e sociais, sempre com um humor mordaz. As suas pinturas a óleo, detalhadas e cuidadosamente executadas, são enigmas que carregam uma multitude de significados ocultos.
Patricio Cabrera explora uma imaginação pictórica única, uma pintura caracterizada por cores intensas, onde paisagens estilizadas, arabescos, formas florais e a coexistência de elementos naturais e geométricos se sobrepõem, oferecendo ao observador vários níveis de interpretação e evocação.
Neil Farber é conhecido pelos seus trabalhos em papel e desenhos povoados de personagens infantis e animais bizarros, que evoluem num mundo onírico e fantástico. Nas suas obras aparentemente ingênuas, Neil Farber ultrapassa os limites entre o real e o imaginário, transmitindo uma estranheza encantadora.
Cristine Guinamand transporta-nos para uma imaginação vegetal e animal sui generis, um mundo fabuloso, feérico e encantado. Não é claro se as suas pinturas são paisagens ou aparições, visões fantásticas ou fugas para florestas encantadas, mas estas são obras que nos atraem irresistivelmente—para a luz, para o esplendor de uma natureza insondável e enigmática.
JAS (João Alexandrino) pinta e desenha, mas também trabalha com instalações e performances, cria filmes, vídeos experimentais e cenografias para a Ópera. A sua obra, tanto pessoal quanto colaborativa, esbate as fronteiras entre as formas artísticas.